Um grande amigo meu sempre diz que a piada só pode ser assim
classificada quando um a conta e todos riem. Se uma pessoa não achar graça, já
não se pode mais dizer que é uma piada. Sabe aquele tio que, quando há festa de
família, sempre chega fazendo aquelas piadinhas sem graça, muitas vezes até
constrangendo o sobrinho, o cunhado ou a sogra? Ao estilo “tio do pavê”, que,
quando a sobremesa é disposta, olha o pavê e faz a célebre pergunta: “É ‘pavê’
ou é ‘pacumê’?”. O presidente Jair Bolsonaro pode ser considerado um grande “tiozão”
desse estilo.
Muitos talvez irão ler isso e dizer que o mundo está chato e
que qualquer coisa vira fobia: xenofobia, homofobia, transfobia, gordofobia, misoginia
e mais um monte de palavras que estão na moda. Até concordo, em parte. Mas, ao
mesmo tempo, devemos reconhecer que o mundo não é mais o mesmo de décadas atrás.
A tecnologia evoluiu, o acesso à informação está cada vez mais universal e quase
não há mais vagas para os “tiozões” que se acham os comediantes, achando que podem
dizer tudo para arrancar alguns risos. Alguns risos, somente.
Não ouso afirmar a bobagem de que o presidente da República
tinha ódio aos públicos considerados como minorias. Acredito que não. Mas seus
(desnecessários) comentários geravam repulsa desses públicos. Nem tudo o que
vem na cabeça pode ser expressado. Nem sempre é ocasião para determinadas afirmações,
por mais sinceras e verdadeiras que algumas delas possam ser. Algumas, reitero.
Afirmar, em meio à pandemia da Covid-19 que “não era coveiro”,
quando milhares de pessoas morriam e o presidente era questionado sobre as suas
ações como chefe da nação é algo que, além de grosseiro, dá uma demonstração de
insensibilidade. Um presidente precisa ter a sensatez de avaliar momentos e
ocasiões. O comportamento “tiozão” de Bolsonaro, associado à falta de uma
assessoria de comunicação especializada e perspicaz foi o grande fator para sua
derrota no pleito de ontem.
Lógico que não se pode deixar de olhar o caráter técnico do governo
de Bolsonaro, que deu andamento a obras paradas, que administrou razoavelmente
a economia, amenizando consideravelmente os efeitos gerados pela pandemia, bem
como os esforços e avanços nas políticas sociais de renda mínima, como o
Auxílio Brasil e os auxílios emergenciais disponibilizados. A parte técnica o
deixou em uma colocação próxima a do seu adversário, Lula. Mas nem só de
técnica se faz um governo. A imagem, a expressão, ou seja, a comunicação e a
forma de se comunicar também são determinantes para a imagem de um governante.
Estamos num cenário diferente de 2018, quando vivíamos o clima
pós-impeachment de Dilma Rousseff, onde a chamada “direita” estava,
automaticamente, em ascensão e a campanha de Bolsonaro se deu de forma natural
e simples. O povo o elegeu, mas também, de certa forma, soube o acompanhar e o
avaliar. Se, talvez, o lado fanfarrão tivesse dado lugar ao tom de seriedade,
falando somente o que fosse necessário e obedecendo a “liturgia” que o cargo
assim exige, o cenário ontem estabelecido poderia ser diferente.
Foi-se o tempo em que se fazia política no “peitaço” e no grito.
E já saturou até mesmo as lives de Facebook feitas de forma amadora, por um dos
filhos, onde o “protagonista” toma café com o copo de requeijão e come pão com
leite condensado. Fazer política é, 70%, saber dominar a arte de se comunicar,
atento à atualidade, aos anseios da sociedade e sensível a todos os públicos,
sejam eles “maioria” ou “minoria”. Para isso, que se coloque gente que entenda
do assunto: jornalistas (diplomados, diga-se de passagem), relações públicas,
publicitários, profissionais de marketing, sociólogos e cientistas políticos.
Entender que os fenômenos de “esquerda” e de “direita” são passageiros,
cíclicos, também é fundamental. O filho do político nem sempre tem essa sensibilidade.
Deixe essa bola para quem realmente sabe como fazer o gol.
Pois, então, presidente Jair Bolsonaro, você foi o primeiro presidente
da República a concorrer uma reeleição e não obter vitória. No meu entender,
Bolsonaro perdeu para ele mesmo. Não irei entrar aqui no mérito da questão se
Lula merecia ou não ganhar. Apenas posso afirmar que Bolsonaro teve a
oportunidade nas mãos e não soube aproveitar em virtude desse único fator:
comunicação.

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